PROCESSO DE
VALIDAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA DO MASLACH BURNOUT INVENTORY: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO
Alexandre Luís
Gonzaga (UEMS)[1]
Resumo: A
síndrome de burnout é um fenômeno que afeta o trabalhador moderno nas mais
diversas áreas de atuação, e pode ser incapacitante. Neste estudo analisamos um
conhecido instrumento de avaliação desta síndrome e o submetemos a um processo
de validação estatística em língua portuguesa com uso de análise fatorial. Um
processo de validação é necessário para saber um intrumento de pesquisa se
comporta em outra língua domesmo modo que na sua língua original. O Maslach
Burnout Inventory é um instrumento baseado em escalas de Likert e prevê
originalmente três fatores a saber: exaustão emocional; despersonalização;
reduzida realização pessoal. A matriz foi rotada sem limitação de fatores pelo
método de rotação Equamax em SPSS 10.0, a análise resultou em 5 fatores com
eingenvalues acima de 1,0 pelo critério de Kaiser sendo 4 fatores com alta
confiabilidade baseado no teste alfa de Cronbach.
Palavras-chave:
síndrome de burnout, instrumento de análise, motivação no trabalho
Abstract: The burnout syndrome is a phenomenon that affects the modern
worker in the most diverse areas of activity, and can be disabling. In this
study, we analyzed a well-known instrument for assessing this syndrome and
submitted a process of statistical validation in Portuguese using factor
analysis. A validation process is necessary to find out how a research tool is
compatible with another home language than its original language. The Maslach
Burnout Inventory is an instrument based on Likert variations and estimated
three factors, namely: emotional exhaustion; depersonalization; reduced
personal fulfillment. A matrix was rotated without the limitation of factors by
the Equamax rotation method in SPSS 10.0, an analysis resulting from 5 factors
with values above 1.0 by the Kaiser criterion, being 4 factors with high
frequency based on Cronbach's alpha test.
Keyword: burnout syndrome, analysis tool, motivation in the work
Este texto é um
excerto de nossa dissertação onde tratamos de modo ampliado e detalhado o
escopo abordado aqui.
O ponto de
partida de toda a discussão apresentada neste trabalho tem como referência a
síndrome de burnout decorrente do stress no ambiente de trabalho. Portanto,
este trabalho apresenta conceitos de stress e burnout e o processo de validação
de um instrumento largamente usado na psicologia do trabalho para detectar esta
síndrome. A validação se dará com o uso de métodos estatísticos robustos para
possibilitar seu uso tanto em Administração como em Psicologia do Trabalho
A primeira
tentativa de descrever o burnout foi feita por Freudenberger (apud Maslach,
1986; Almer & Kaplan, 2002; Söderfeldt, 1997) que foi quem introduziu o
conceito descrevendo reações adversas em pessoas que trabalhavam em serviços de
saúde. O autor era um psicólogo clínico, e sua abordagem para o burnout era
voltada à estudos clínicos.
A abordagem
clínica de Freudenberger é diferente quando comparada à segunda tentativa de
Maslach. Ela pode ser reconhecida como a pessoa que trouxe o burnout para a
Academia e desempenhou um importante papel na expansão das pesquisas em torno
deste fenômeno. A autora desenvolveu o instrumento mais amplamente usado para
medir o burnout, o Maslach Burnout Inventory, MBI, onde o burnout é concebido
como uma síndrome com três diferentes, embora relacionados, aspectos. Maslach
tem claramente uma visão multidimensional do burnout.
O autor se
baseou nas suas próprias pesquisas e experiência pessoais (Söderfeldt, 1997) e
nas suas observações diárias de pessoas com sinais de burnout, detalhou efeitos
gerais do fenômeno. Os sinais podem ser ao mesmo tempo físicos e
comportamentais variando de pessoa para pessoa. Freudenberger considerou os
seguintes sintomas como sinais de burnout: sentimentos de exaustão e fadiga,
inabilidade para deixar pequenos problemas para depois, freqüentes dores de
cabeça, gastrites, perda de peso e sono, depressão.
A pessoa
potencialmente sob risco de burnout é descrita por Söderfeldt (1997) como
alguém com dificuldades de segurar seus sentimentos e em função disto não se
envolve com seu trabalho apresentando, assim, baixo desempenho, tendo também
dificuldade de relacionamento social e familiar.
De acordo com
Maslach, seu interesse no burnout surgiu em pesquisas com reações emocionais. A
autora estudou como policiais e trabalhadores dos setores de emergência de
hospitais lidavam com seus sentimentos. Surgiram três aspectos conceituais a
partir destes estudos, “indiferença” (detached concern) e “insensibilidade ou
embrutecimento desumanização para auto-defesa”. refere-se ao ideal da profissão
médica de não misturar compaixão e distância emocional; “desumanização”
refere-se ao processo de proteger-se dos sentimentos alheios de opressão,
respondendo a outras pessoas mais como sendo objetos que como pessoas
(Söderfeldt, 1997).
O terceiro
aspecto está relacionado à auto-avaliação de competência profissional. A
experiência de desordem ou agitação emocional era freqüentemente interpretado
como um fracasso profissional. Muitos dos trabalhadores pesquisados por Maslach
não se sentiam preparados pelo treinamento formal a lidar com os aspectos
emocionais do trabalho e seus efeitos sobre eles.
A partir daí
Maslach elaborou um instrumento de pesquisa baseado em escalas de Likert com a
intenção de medir ou quantificar o quanto uma atitude negativa pode impactar
trabalhador e trabalho, surge, assim, o Maslach Burnout Inventory.
Atitude negativa
em relação ao trabalho resulta em sentimentos de baixa realização profissional
e performance inadequada; das três dimensões de estudo do burnout, baixa
realização pessoal é a dimensão que menos recebeu suporte empírico (Armer &
Kaplan, 2002).
A hipotética
relação entre os três componentes é que a exaustão emocional é uma resposta a
estressores emocionais no trabalho e que, contudo é a primeira fase do burnout.
O indivíduo pode tentar lidar com os estressores se afastando deles,
desenvolvendo resposta despersonalizada às pessoas. Quando a despersonalização
ocorre, o indivíduo tende a avaliar-se menos positivamente em termos de
realização de um bom trabalho. Assim, a exaustão emocional deve ser um preditor
da despersonalização, que o é do nível de realização pessoal. (Maslach &
Jackson, 1982)
Os trabalhos de
Freudenberger e Maslach colocam o burnout como fruto de situações de trabalho,
notadamente nos profissionais que têm como objeto de trabalho o contato com
outras pessoas. O burnout, então seria a resposta emocional a situações de
stress crônico em função de relações com pessoas em situação de trabalho, e, no
entanto em função de diferentes obstáculos, não consegue desenvolvimento
profissional, dedicação à profissão e não alcançam o retorno desejado (Limongi
França & Rodrigues, 1999).
A preocupação
com a saúde do trabalhador, neste contexto, relaciona-se diretamente com sua
produtividade na empresa. Ou seja, para se atingir plena produtividade e
qualidade é preciso ter indivíduos saudáveis e qualificados. A organização, por
sua vez, atua de forma a pressionar o indivíduo, levando-o a estados como os de
insatisfação. Dentre esses estados, encontra-se a fadiga, o stress e a síndrome
de burnout. Em uma perspectiva interacionista que leve em consideração um
ajuste dinâmico entre pessoal, local de trabalho e organização, sugere-se que
nem sempre esse ajuste é adequado, onde surgiria tanto motivação quanto
predisposição ao stress.
O mesmo trabalho
que motiva e gratifica, quando realizado com plena atenção e perspicácia, exige
esforço, concentração e raciocínio, implica em desgaste físico ou mental,
lembra-nos Kanaane (1994). Nesse sentido nota-se uma relação intrínseca entre
este desgaste e a qualidade do trabalho.
Aubert em seu
artigo “A Neurose Profissional” (in Chanlat et. al. 1996 vol. 2) descreve o
burnout como o que denomina “doença da idealização” e acrescenta que este é
... o custo
elevado do sucesso, decorrente da luta constante que mantemos para satisfazer
os ideais de excelência que caracterizam nossa sociedade e que algumas empresas
encarnam com particular acuidade (ibidem, 1996:187).
A necessidade
crescente de envidar esforços na busca de um desempenho cada vez melhor e de tender
para um maior sucesso profissional, estão na origem desse fenômeno, o indivíduo
entra numa espiral de realizações onde é obrigado a correr cada vez mais
depressa em um contexto onde as mudanças ocorrem tão rapidamente que não resta
nada estável suficiente para dar a segurança necessária para este indivíduo
parar e renovar suas energias.
Esta espiral de
realizações provoca um efeito colateral, uma resposta do indivíduo que começa
com um stress, que num primeiro momento
não é de todo ruim. Este processo deve ser compreendido melhor, nesse sentido
expoe-se a seguir o método da pesquisa.
Uma pesquisa do tipo
Survey é composta por um questionário aplicado a amostras de populações, no
caso desta pesquisa um questionário foi aplicado a uma amostra de funcionários
de uma instituição financeira localizada na Cidade de São Paulo. Para caracterizar-se
a pesquisa como sendo do tipo Survey, alguns procedimentos são necessários
como, por exemplo, as respostas serem codificadas de forma padronizada e
registradas de forma quantitativa. Os registros são submetidos a uma análise
agregada, para fornecer descrições dos elementos da amostra e determinar
correlações entre diferentes respostas. As conclusões são então, generalizadas
para a população toda. (Babbie 1999).
Sucintamente
pode-se dizer que a pesquisa efetuada aqui, devido ao problema enfocado, pode ser
classificado como quantitativa, com resultados obtidos através de um
levantamento amostral (survey), com escalas de atitudes de Likert, e dados
analisados segundo métodos estatísticos de análise multivariada.
A amostra é composta por 120 elementos pertencentes ao sexo
masculino (64,9%) e 65 elementos pertencentes ao sexo feminino (35,1%), a
constituição do grupo macro não apresenta equilíbrio pois o número de sujeitos
do sexo masculino é quase duas vezes o de sujeitos do sexo feminino.
Quanto à faixa etária dos respondentes, a maior
incidência encontrada foi “entre 30 e 40 anos” com 35,1%, seguida da faixa
etária “acima de 40 anos”, com 33%. Vale ressaltar, conforme apresentado na
referida tabela, que não houve grupo com maior representação para “faixa etária”,
a distribuição apresentou-se bastante homogênea
A
distribuição por grau de escolaridade foi: 30,6% até o nível médio; 24,7% com
superior incompleto; 44,3% com grau superior completo; 0,4% com pós-graduação.
Um dos mais poderosos métodos para reduzir a
complexidade de variáveis a maior simplicidade é a análise fatorial para
Kerlinger (1999). É um método analítico para determinar o número e natureza de
variáveis subjacentes a um grande número de variáveis (idem 1999, p. 203). A
presente análise teve como objetivo a identificação da estrutura fatorial das
respostas colhidas na amostra do estudo proposto para comparação com a
estrutura fatorial descrita nos estudo de Barnet et al. (1999), Maslach et al.
(1986) e Gil-Monte (2002)
O instrumento foi analisado segundo o método de Análise
Funcional de intercorrelações – matriz rotada de correlações – chamado Equamax com normalização de Kaiser. Esse
método foi escolhido porque o número de variáveis obtido terá carga fatorial
maior e o número de fatores será minimizado, isto é, a reunião de proposições
segundo a mesma tendência de correlação estatística para se fazer julgamentos
de aspectos que têm a mesma relevância frente ao conjunto de assertivas. Com
essa análise pode-se separar e agregar elementos muitas vezes indistintos,
obtendo uma visão integral das concepções prévias dos respondentes.
Foram também realizados testes para confirmar se o método de
análise fatorial seria adequado ou não, para não usa-lo apenas por simples
sugestão.
O teste Kolmogorov-Smirnov verifica se os dados se comportam
como uma distribuição normal ou de Gauss, ou seja, avalia-se a aderência dos
dados àquele tipo de distribuição. O resultado mostrou que o valor da
significância (p) para todas as variáveis é menor que 0,0001 (p< 0,0001) de
acordo com os testes de distribuição normal, distribuição uniforme e distribuição
exponencial.
Estes resultados indicam que os dados da amostra não podem
ser considerados normais e assim deve-se tratá-los com métodos não-paramétricos
(SPSS, 1999). Entretanto, no teste Poisson a significância permaneceu abaixo de
0,0001 somente em três variáveis, nestas condições os testes complementares de
Kaiser-Mayer-Olkin (KMO) e o de esfericidade de Bartlett, para determinar se o
método de análise fatorial pode ou não ser utilizado, são indicados (COOPER e
SCHINDLER, 2003).
Utilizou-se
o software SPSSâ (Statistical Package for the Social
Sciences) Versão 10.0 para efetuar todos os testes descritos.
O
Teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) indica a medida de adequação dos dados, é um
teste que examina o ajuste de dados, tomando todas as variáveis simultaneamente.
Quando as correlações parciais forem muito pequenas, o KMO terá valor próximo a
1 e indicará a perfeita adequação dos dados para a análise fatorial (Pereira,
2001), a amostra obteve 0,865 como valor de adequação.
Outro teste que
precede a análise fatorial, com objetivo de testar a correlação entre as
variáveis é o Bartlett Test os Sphericity
ou Esfericidade de Bartlett, que testa a hipótese de que a matriz de correlação
seja uma matriz identidade (diagonal igual a 1 e todas as outras medidas iguais
a zero), ou seja, que não há correlação entre as variáveis. Ambos os testes
indicam qual é o grau de suscetibilidade ou o ajuste dos dados à análise
fatorial, isto é, qual é o nível de confiança que se pode esperar dos dados
quando do seu tratamento pelo método multivariado de análise fatorial, e assim
seja empregada com sucesso (Hair et al, 1998).
O teste
Chi-quadrado (c2) pode ser usado para avaliar a relação entre duas
variáveis qualitativas. Este teste é um teste não paramétrico, que é muito
útil, pois não precisa da suposição de normalidade das variáveis para analisar
o grau de associação entre as duas variáveis, porém este teste é menos poderoso
que o teste paramétrico. O teste chi-quadrado não permite concluir como se dá a
relação entre as variáveis, uma vez que ele testa apenas a hipótese geral de
que duas variáveis são independentes
Apoiado nos
resultados do teste geral de adequação da amostra, KMO = 0,865 (valores na casa
dos 0,80 indicam boa adequação dos dados à análise fatorial, segundo Pereira,
2001), e no resultado do teste de esfericidade de Bartlett (Chi-quadrado =
1582,108) e significância (sig. <
0,0001) se procedeu a análise de componente principal e confirmador de fatores
com iterações e rotação equamax.
A
rotação ortogonal Equamax permitiu a redução das variáveis ou de fatores.
Buscou-se uma seleção de cargas fatoriais mais significativas, assim,
escolheu-se a rotação com valores acima de 0,500 (corte das cargas fatoriais)
que se mostra adequado, pois a literatura sugere valores acima de 0,300
(Kerlinger, 1980).
Tabela 1: Matriz Rotada dos Componentes
|
|
|||||
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
|
2- consumido |
,811 |
|
|
|
|
|
1- drenado |
,787 |
|
|
|
|
|
8- esgotado |
,776 |
|
|
|
|
|
3- fatigado |
,740 |
|
|
|
|
|
14- trabalhando demais |
,686 |
|
|
|
|
|
20- baterias no final |
,670 |
|
|
|
|
|
13- frustrado |
|
|
|
|
|
|
5- trato impessoal |
|
,754 |
|
|
|
|
6- desgastante |
|
,703 |
|
|
|
|
16- estressado |
|
,682 |
|
|
|
|
18- exaurido |
|
-,652 |
|
|
|
|
12- animado |
|
|
,813 |
|
|
|
19- realização no trabalho |
|
|
,809 |
|
|
|
9- influência positiva |
|
|
,563 |
|
|
|
17- boa atmosfera com clientes |
|
|
|
,667 |
|
|
7- trato eficaz |
|
|
|
,617 |
|
|
21- mantendo a calma |
|
|
|
,609 |
|
|
4- entender o cliente |
|
|
|
,607 |
|
|
15- interesse pelo cliente |
|
|
|
-,509 |
|
|
10- insensível com pessoas |
|
|
|
|
,804 |
|
11- endurecimento
emocional |
|
|
|
|
,721 |
|
22- clientes culpam-no |
|
|
|
|
,510 |
|
Fonte:
relatório do SPSS.
Extraction
Method: Principal Component Analysis.
Rotation
Method: Equamax with Kaiser
Normalization. A Rotation converged in 8 iterations
Deve-se
atentar para os valores das variâncias obtidos na análise fatorial, estes
mostram que há cinco fatores e que o primeiro deles explica aproximadamente
29,26% dos dados da amostra, sendo de maior importância para a explicação dos
dados. Adotou-se o critério de Kaiser onde foram selecionados os fatores cujos
“eigenvalues” são maiores que 1. Um sexto fator tinha um “eigenvalue” muito
próximo de 1 (0,958), todavia optou-se pela eliminação do mesmo uma vez que
estava fora do limite de aceitação previsto no critério.
Os fatores Despersonalização e Realização Pessoal, previstos
originalmente para o instrumento desdobraram-se.
A distribuição prevista por Maslach & Jackson é a
seguinte:
Esgotamento Emocional: 1,2,3,6,8,13,14,16,20;
Despersonalização: 4,7,9,12,17,18,19,21;
Realização Pessoal: 5,10,11,15,22.
Assim, com uma nova distribuição, fez-se necessário também a
re-interpretação dos fatores extraídos.
A
variância explicada é a medida da capacidade que um Fator tem de representar a
variação total das variáveis originais e é dado como uma proporção. Cada
variável tem com cada Fator uma correlação que mede a força com que esta
variável está ligada a este Fator. A esta medida dá-se o nome de Carga
Fatorial. Para que a variável seja considerada pertencente a um determinado
Fator e não a outro, o critério é arbitrário, entretanto, a maioria dos
trabalhos utiliza como critério valores de cargas fatoriais acima de 0,300.
A
análise de variância permite concluir acerca da igualdade das médias de cada
fator através da comparação da variação entre amostras e a variação residual.
Neste estudo, os sujeitos são agrupados pela variância de suas respostas assim
construindo os fatores de análise
Tabela 2 – Total de
Variâncias Explicadas pelo método de Análise do Componente Principal
|
Initial Eigenvalues |
|
Total da Variância
explicada |
|
Componente |
Total |
% de Variância |
Cumulativa % |
|
1 |
6,439 |
29,268 |
29,268 |
|
2 |
2,588 |
11,763 |
41,031 |
|
3 |
1,514 |
6,884 |
47,915 |
|
4 |
1,409 |
6,403 |
54,318 |
|
5 |
1,118 |
5,081 |
59,399 |
|
Fonte: Relatório do SPSS
Como visto na
Tabela 9, a rotação Equamax não confirmou os 3 fatores previstos por Maslach.
Assim, os fatores identificados foram assim denominados com suas respectivas
questões:
Fator
1 = stress no trabalho – 1,2,3,8,14,20
Fator
2 = relacionamento interpessoal – 5,6,16,18
Fator
3 = satisfação no trabalho – 9,12,19
Fator
4 = interesse no atendimento ao cliente – 4,7,15,17,21
Fator
5 = apatia no trabalho – 10,11,22
A confiabilidade
do instrumento foi medida através do
alfa de Cronbach que é a medida do quadrado da correlação entre o escore
observado e o escore real.
Inicialmente
interpretamos a consistência interna por meio deste coeficiente onde obtivemos
resultados satisfatórios. O valor de alfa de Cronbach foi acima de 0,80 e está dentro dos valores aceitáveis segundo
sugestões de Nunnaly (1978) e Neto (2001).
O valor de alfa
de Cronbach dos itens mostra que não é necessário eliminar nenhum item uma vez
que não ocorrerá melhora do valor de alfa obtido (0,8014). O valor obtido
supera os valores mínimos descritos por Nunnaly (1978). Segundo Neto et. al. (2001) o teste de confiabilidade
é imperativo e mede o desempenho de um instrumento em uma dada população evitando
o agrupamento de questões aparentemente relevantes. Ainda segundo Freitas et
all. (2000) a validade e a confiabilidade são requisitos essenciais para a
medição do instrumento.
Considerando-se que há apenas dois fatores com
coeficientes alfa de Cronbach com valores inferiores a 0,7, (fatores 3 e 5,
respectivamente com coeficientes de 0,6334 com alfa padronizado em 0,6413 e
0,5852 com alfa padronizado em 0,5857), pode-se considerar que a consistência
interna dos dados obtidos com o uso do MBI como instrumento é satisfatória.
A análise
discriminante nos permite investigar se subconjuntos da amostra, categorizados
em grupos pré-definidos a partir de alguma característica ou condição
específica dos respondentes, apresentam diferenciações significantes. Os
critérios para definição dos grupos a serem estudados foram sugeridos segundo
crença do pesquisador sobre
características que poderiam influenciar o comportamento da amostra.
Na análise
discriminante não foram encontrados grupos que se ressaltassem em relação à
amostra total. Se por um lado isto pode significar que as políticas de Recursos
Humanos são eficientes o bastante para agirem sobre os funcionários de maneira
a nivelá-los, por outro lado significa que a amostra não foi grande o
suficiente para que se pudesse quantificar as diferenças entre subgrupos.
Análise dos
resultados
O primeiro fator
a ser analisado, stress no trabalho, é também o mais fortemente apontado nas
extrações fatoriais efetuadas, com eigenvalue de 6,445 explicando sozinho 29,29%
da variância apresentada na amostra
O Relacionamento
Interpessoal – Fator 2Este fator descreve atitudes comportamentais dos
funcionários em relação aos colegas e clientes. É importante notar que este
fator tem relação direta com a interação no ambiente de trabalho e explicou
11,76% da variância total observada na amostra
Assim entendido,
que o stress seja provavelmente conseqüência da natureza da atividade, voltamos
nossa atenção para a alta carga fatorial apresentada neste fator. Os
funcionários não estavam, ao menos no momento em que as respostas foram
colhidas, reagindo bem à situação diária. O insucesso em superar as situações
que se apresentam no ambiente de trabalho diariamente se configura como uma
situação de perigo ao controle do ambiente.
Nas
organizações, trabalho e indivíduo são estreitamente interligados, a ponto de o
sucesso competitivo de uma organização apoiar-se na integração destes dois
elementos com a efetividade do gerenciamento dos relacionamentos entre ambos.
Assim, gerentes
precisam conhecer vários fatores que afetam o desempenho do trabalhador quando
em local de trabalho.
A proposta desta
pesquisa não foi a de identificar os fatores que afetam o trabalho, todavia, o
fator ora identificado, Relacionamento Interpessoal, visa avaliar a qualidade
dos relacionamentos dentro da organização num determinado momento. De acordo
com Wagner & Hollenbeck (1995) existem quatro tipos de interações de
interdependência, a agrupada, a sequencial, a recíproca e a compreensiva. Nesse
sentido, identificar o tipo de relacionamento estabelecido entre os
trabalhadores pode oferecer algum impacto positivo ou não nos resultados da
organização.
Muitos são os
trabalhos escritos na área da motivação organizacional, por isso não se
pretende aqui discutir mais sobre esse assunto, todavia, a rotação ortogonal
para redução de fatores reagrupou as respostas obtidas de modo a separar um
grupo de questões ligadas indiretamente à motivação. Este item relaciona-se
diretamente com a satisfação no trabalho, relaciona-se com o modo favorável ou
desfavorável com que os funcionários consideram seu trabalho diário.
As variâncias
das assertivas mostraram que: a) o funcionário está bastante animado com seu
trabalho; b) o trabalho os realiza profissionalmente; c) a influência positiva
através do trabalho não é muito clara entre os funcionários.
Na verdade
existe um limite muito tênue que permite distinguir a diferença entre o estar
animado e este realizar profissionalmente o funcionário, assim pode-se deduzir
que os funcionários têm sua necessidade profissional apropriadamente
satisfeita. Entretanto, pode-se deduzir também que estes mesmos funcionários
não vêem seu trabalho com tendo conteúdo positivo suficiente para que possam
influenciar positivamente outras pessoas.
Percebe-se
claramente uma visão herzberguiana sobre o trabalho, os fatores que geram
satisfação (quando estão bem) e os fatores que geram insatisfação (quando estão
mal) são distintos e seus opostos não constituem necessariamente ponto comum.
Embora se esteja analisando o fator “satisfação no trabalho” especificamente,
não se deve esquecer da contextualização em que está inserido, ou seja, não
podemos perder de vista os demais fatores. Nesse sentido, o primeiro fator a
ser analisado mostra inequivocamente existirem causas intrínsecas ao trabalho
que desgastam fortemente o funcionário estressando-o por provável desajuste.
Bergamini nos
diz que as necessidades não satisfeitas devem ser consideradas oportunidades
potenciais de desajustamento, sendo a “necessidade caracterizada como uma
situação ou condição de não realização individual e que leva a conseqüências
indesejáveis” (p. 139, 1997).
Satisfazer a uma
necessidade não só é condição básica para evitar conseqüências de provável
desajustamento, como também representa um meio de neutralizar a discrepância
entre a expectativa da satisfação e o estado real em que a pessoa se encontra.
Os levantamentos
mostram não existir diferenciação quanto às várias classificações efetuadas
entre os funcionários, como observado na análise discriminante, assim, a pessoa
a que se faz referência pode ser qualquer funcionário.
O Atendimento ao
Cliente, fator 4, As variáveis deste fator, conforme mostradas na tabela 34,
mostram uma característica marcante, os funcionários se vêem prestando um bom
atendimento ao cliente sem que isso lhes faça se interessar pelo que acontece
com seus clientes.
Observa-se uma
falta de preocupação do Banco em realmente atender as necessidades do cliente e
assim destacar o serviço pessoal de atendimento ao cliente como uma vantagem
competitiva, defendida por Albrecht (1992) no sentido de a empresa voltar-se
totalmente para o cliente.
Todavia, alguns
os Bancos apresentam o mesmo modus operandi e têm o mesmo comportamento, e uma
maneira geral o consumidor acaba não tendo escolha, especialmente aqueles que
gostariam de um atendimento mais pessoal ou personalizado e respostas mais
rápidas aos seus problemas ou dificuldades sem que esse atendimento dependesse
de seu saldo em conta.
Conforme
observado, o fator “atendimento ao cliente” explicou 11,76% da variância da
amostra sendo de grande importância à interpretação dos resultados.
O quinto fator,
A apatia é uma atitude estreitamente relacionada com a despersonalização
descrita por Maslach. São atitudes de auto-análise, é o que o funcionário
percebe em si como resultado da interação com o trabalho, enquanto que o fator
2 discute sua capacidade de se inter-relacionar com outras pessoas
Este fator é
explicitamente focado no próprio funcionário e, nesse sentido, também
representa um desdobramento do fator 1. É claramente uma atitude negativa,
sendo, entretanto, diferente de impessoalidade de ação na organização, tal como
seria a burocracia Weberiana, onde o indivíduo é neutro, estritamente racional
e, nesse sentido, despersonalizado.
Argyris nos
sugere que a busca contínua da racionalidade pela organização se processualiza
de forma tão estruturada que causa ao indivíduo uma “incongruência básica”
entre a personalidade do indivíduo e a organização formal. Esta incongruência
básica aparece à medida que a organização obriga o indivíduo a se submeter a
seus procedimentos, rotinas, regras, tornando-o submisso, fazendo-o atuar sob
controle e, portanto, com pouca margem de liberdade e ação. Este tipo de
conflito se agrava com o crescer do nível intelectual do indivíduo, (Argyris, 1969 ).
A reação do
indivíduo se faz numa linha adaptativa: o trabalhador precisa do trabalho para
sobreviver, não pode mudar a maneira de ser da organização, resta somente a
adaptação.
A adaptação
ocorre até o ponto em que o conflito que obriga o trabalhador à adaptação também
o leva à frustração. Para Argyris este processo gera mecanismos de defesa, cria
uma contracultura. Ao nível pessoal, o autor diz que o trabalhador poderá
desenvolver apatia no trabalho, desinteresse e até sabotagem.
Considerações
finais
Neste estudo,
buscou-se validar um instrumento de análise do campo da Psicologia do Trabalho
na área da Administração de Empresas valendo-se da interdisciplinaridade do
assunto. Tal instrumento, constituído de uma escala de atitudes, foi aplicado
em uma amostra não probabilística, mas estatisticamente adequada, de
funcionários de um Banco Federal e os dados coletados, foram analisados segundo
métodos estatísticos multivariados de análise fatorial.
Observou-se que,
pela análise dos resultados, deu-se como dimensão mais importante o Stress no
trabalho, que corresponde a 29,27% da variância da amostra, o que implicou numa
análise mais detida do tema.
o objetivo da
análise fatorial é a análise de dimensionalidade do instrumento. Os níveis
altos ou baixos das respostas coletadas são irrelevantes para as dimensões.
Contudo, essas dimensões estão subjacentes, chamadas de fatores, e não são
observadas numa análise a priori, mas
que presumivelmente explicam resultados obtidos. Nesse sentido, segundo
Kerlinger (1980),um fator é um constructo, uma entidade hipotética, uma
variável não observada mas que tem a capacidade de explicar a variância de
variáveis observadas
Conforme pode
ser constatado em Maslach & Jackson (1986), não está claro qual tipo de
análise fatorial foi usado no desenvolvimento do MBI. Nós acreditamos que foi
usado o método da análise chamado Máxima Verossimilhança (Maximum Likelihood),
porque este método junta todos os valores de variância muito semelhantes, ao
mesmo tempo, os autores podem ter optado por forçar a matriz à três fatores.
Como apontados
anteriormente, os 22 itens do MBI foram analisados aqui pelo método de análise
do componente principal com rotação Equamax. O número de fatores foi
determinado pelo critério de Kaiser; o alfa de Cronbach foi calculado para o
instrumento como um todo e por fator em análises separadas. Este foi o método
que mais se adequou à nossa expectativa por que conseguiu explicar a maior
porcentagem da variância apresentada. Ressaltamos que tentamos reproduzir
alguns métodos propostos, todavia os modelos apresentaram-se inadequados à
amostra utilizada neste trabalho.
O Objetivo
principal deste estudo foi alcançado, a validação do MBI em língua portuguesa
foi bem sucedida, ou seja, o instrumento está validado, no entanto as cargas
fatoriais mostraram que existem outros fatores além dos relacionados por
Maslach & Jackson (1986); nesse sentido, aqui reside a maior contribuição
deste estudo.
Está criada uma
matriz para estudos posteriores em língua portuguesa; a matriz a que se faz
referência é aquela constante na Tabela 9, onde se pode observar a extração dos
fatores e suas respectivas cargas. Ressaltamos que o corte foi efetuado com um
valor 0,500, bem acima dos 0,300 sugeridos na literatura. A importância deste
alto valor de corte está em notar a alta contribuição de cada assertiva na
construção dos fatores.
Esperamos ter
contribuído um pouco para o estudo e a compreensão desta síndrome.
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[1] Professor Doutor na área de Comunicação Empresarial e Língua Portuguesa, atua como substituto na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. E-mail: alexandre_gonzaga@hotmail.com
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